Após a abordagem em aula acerca dos efeitos dos media, achámos extremamente importante reflectirmos de um modo mais aprofundado sobre este assunto, uma vez que na sociedade actual os meios de comunicação estão cada vez mais à mercê da criança, sendo, para muitas, a ocupação regular dos tempos livres.
Para abordar este tema recorremos aos conteúdos abordados e leccionados em aula e, também, a um texto encontrado aquando a realização de uma pesquisa acerca deste tema, pertencente ao livro Estratégias e Discursos de Publicidade de Francisco Rui Cádima. Com esta reflexão pretendemos abordar os perigos dos media para o público infantil, assim como algumas estratégias a utilizar para ultrapassar os mesmos perigos.
Como já foi referido anteriormente, as crianças de hoje possuem uma relação muito próxima com os meios de comunicação, principalmente com a televisão. A sua susceptibilidade às mensagens que nela passam é grande e pode tornar-se grave, caso não se tomem medidas para educar a criança para a selecção das mensagens com que é constantemente bombardeada. No entanto, não só a criança está desprotegida relativamente às mensagens que a TV, englobando programas e publicidade, possa transmitir, mas também grande parte do público em geral. Provavelmente o impacto nas crianças é acrescido, pois a criança é naturalmente analfabeta do ponto de vista da selecção e interpretação dos media.
O sensacionalismo da TV é deveras absorvente para o público. Grande parte das pessoas perde-se na função exagerada dada a um determinado produto. Pensámos e discutimos este assunto e temos em nossa opinião que a posição da sociedade actual, quer ao nível económico-social, quer ao nível cultural poderá estar directamente relacionado com este efeito que os media obtém nos cidadãos. A nossa posição advém do facto de a realidade da TV ser muito diferente da realidade actual e, por isso, as pessoas são influenciadas por tudo o que parece trazer melhoras á sua vida e facilitá-la, criando, assim, o poder irreal de dar respostas ás exigências da sociedade actual requer.
Focando-nos novamente nas crianças e com base nas pesquisas realizadas apercebemo-nos do quão desadequadas são as grelhas de programação vigentes, tendo em vista o público infantil. Fazendo um paralelo com as questões abordadas em aula, detectamos que a preocupação destas grelhas está única e exclusivamente centrada no público provável de um determinado período horário. Este facto é cada vez mais passível de ser observado. Tomamos como exemplo os nossos tempos de escolaridade básica cujas grelhas televisivas eram preenchidas, no período da tarde, por programas dirigidos ao público mais pequeno, pois, embora muitos programas visassem apenas o entretenimento, poupavam-nos daqueles programas que embora possam revelar-se interessantes para um público mais velho, nada nos ensinam. é neste ponto que voltamos à necessidade de aproximar o público dos problemas da sociedade. Queremos com isto dizer, numa sociedade cada vez mais preenchida pelo desemprego, pela pobreza, pelas doenças, entre muitos outros problemas, o truque das audiências passa por expor casos de sucesso ou insucesso destes mesmos problemas que são quotidianos de grande parte da população, prendendo, deste modo, o espectador ao que se identifica. Assim, interrogamo-nos, e as nossas crianças?
Muitos dos programas para crianças estão reservados ao que é suposto ser o tempo em família, ou seja fins-de-semana e tempos de refeição familiar, deixando aqueles programas, que á partida poderiam ser interessantes e promotores de boas aprendizagens aquando acompanhados devidamente por adultos, para as horas em que os mesmos adultos estão no emprego ou a desempenhar tarefas de cariz doméstico, como a confecção do jantar, negligenciando, assim, as crianças e deixando-os desamparados num mundo de mensagens indetectáveis. Desta maneira, as interacções da criança realizam-se com um mundo adulto forçado e longe do real, executado apenas com vista a economia, levando, deste modo, a uma educação consumista das crianças.
Além dos valores económicos, existe o problema dos valores sociais que se transmitem á criança. Numa sociedade onde as mulheres são emancipadas, embora ainda exista alguma discriminação, são errados os anúncios publicitários, dirigidos ao público infantil, apresentarem-se definidos por sexos, onde os homens trabalham e as mulheres estão associadas às tarefas domésticas, criando, deste modo concepções desacertadas. Assim, para além de valores económicos errados, também os valores sociais são ultrapassados, sexistas e geradores de desigualdade e discriminação.
Apenas pegando nestes pequenos, mas grandes, problemas que os media podem trazer, é possível prevermos a urgente necessidade de orientação e sensibilização da criança para a selecção e interpretação dos media, de modo a que não sejam mais um público que acredita na sociedade perfeita e utópica que estes meios transmitem.
Como referimos anteriormente, não só as crianças são envolvidas pelo fascínio dos media. A estratégia destes meios envolve os serviços essenciais e o bem-estar, como a saúde e o crescimento, e se estes “milagres” envolvem a criança, então é certo o disparo no número de vendas e no lucro, uma vez que a criança tem hoje um papel deveras importante na sociedade e a preocupação com as mesmas é acrescida.
Existem métodos de apelar á atenção e interesse do cidadão, tal como vimos nas aulas desta Unidade Curricular. Nomeadamente no caso da criança são usadas tipologias de texto estritamente direccionadas para as suas faixas etárias e que detém o seu interesse. Em grande parte é pelo uso destas estratégias que os media conseguem absorver o interesse do público infantil.
Após abordarmos estas questões, que estão longe de serem simples e únicas, apercebemo-nos realmente do quão importante é preparar o público mais novo para este tipo de aliciações e concepções. Este trabalho deve ser desenvolvido em todos os contextos em que a criança se encontra inserida, desde a família à escola. No entanto, consideramos que a escola detém um lugar deveras importante nesta educação, uma vez que também algumas famílias são responsáveis por transmitir estas más concepções, visto também elas serem facilmente aliciadas. Assim, é preciso educar a criança para seu próprio proveito, mas também para que esta possa realizar um trabalho em família.
Finalizando a nossa reflexão, queremos deixar claro que não somos extremistas e não vemos os media como um "lobo mau", até porque também nós já fazemos parte deste tipo de sociedade que se rende a estes meios de comunicação e entretenimento. São muitas as coisas boas que se fazem, no entanto consideramos que as mesmas ficam, não poucas vezes, escondidas por programas mais vistosos e modais. Partilhamos da opinião que quase todo o tipo de programas são possíveis de estabelecer contacto com as crianças, no entanto reforçamos a ideias que os mesmos devem ser rigorosamente acompanhados, pois as crianças absorvem tudo o que observam e ouvem e tal facto pode trazer consequências graves na educação destas crianças e na sua concepção do eu e do ser cidadão. Em nossa opinião a estratégia para ultrapassar este problema passa muito pelo acompanhamento promovendo o diálogo, a interacção e a reflexão da criança.
Bibliografia de apoio:
CÁDIMA, Francisco Rui(1997). A televisão, a criança, a publicidade - Estratégias e Discursos de Publicidade. Lisboa. Editora Vega.
Apresentações Powerpoint e apontamentos das aulas teóricas da Unidade Curricular de Lingua Portuguesa e Tecnologias da Informação e Comunicação
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